☆ sobre pessoas favoritas;
Imagine que isso é como um café virtual. Eu falo, você lê, e no fim, talvez a gente concorde :)
Pra mim, o conceito de “pessoa favorita” sempre foi mais pesado do que para outras pessoas. Nem sempre tive uma pessoa favorita. Pelo menos não me lembro de ter. Acho que tive apenas uma vez. Um garoto loiro de olhos azuis.
Ele se tornou uma pessoa muito importante pra mim ao longo da “obsessão” que eu tinha por ele. Por alggum motivo, mesmo antes de começarmos a nos falar, eu sentia uma admiração enorme por ele. Nos falamos uma vez em 2023. Não terminou muito bem. Ele queria me conhecer e eu não estava muito aberta a isso. Como eu o admirava a muito tempo, eu queria algo mais sério, e ele estava prestes a se mudar de cidade, é óbvio que isso não daria certo. Tudo isso terminou com um ghosting da parte dele. Eu, extremamente orgulhosa, não mandei mais mensagem, mesmo estando sofrendo como se tivesse terminado um namoro de anos.
Um ano depois, adivinhem? Ele voltou. Eu, como sou idiota, aceitei de volta. Ele chegou a mudar de volta pra minha cidade pra supostamente dar certo comigo. Me tratava bem, me elogiava. Parecia um sonho. Uma pena que, com o tempo, foi virando um pesadelo. Certo dia, ele começou a me tratar diferente. Eu percebia cada mínimo detalhe das ações dele, então fui me preparando para o momento em que ele iria parar de falar comigo de novo.
Acho engraçado isso. Esse momento de preparação para não sofrer tanto. Não sei explicar direito. É um momento em que você se sente desiludida e triste, mas ainda tem esperança de que não vai acabar. De que é só coisa da sua cabeça. De que você talvez esteja ficando louca. Só que isso nunca é coisa da nossa cabeça, sempre é real. Ele foi embora da minha vida novamente. Não fiquei mal.
Fiquei triste, obviamente, pois tinha começado a amar ele. Mas nada que fugisse do meu controle. Alguns meses depois, ele voltou novamente. Eu aceitei. Ele foi embora de novo. Voltou, e eu o aceitei novamente. Várias e várias vezes. Muitas vezes mesmo. Ele não conseguia ficar por uma semana na minha vida. Com toda essa instabilidade, as coisas foram piorando. Acho que fui me prendendo na toxicidade dele. Queria e necessitava urgentemente que ele me amasse. Só me sentia completa ao lado dele. Só queria ele. Queria que ele me quisesse na mesma intensidade. Nunca consegui isso. Eu, que não sou religiosa, cheguei a rezar pra Deus para que me ajudasse a ter o amor dele. Foi a única coisa que pedi em anos.
Todo esse sofrimento eu passei sozinha. Minhas amigas não gostavam dele (e com motivo), então eu não poderia conversar sobre o que eu passava, porque elas me cortavam e diziam que tinham avisado (e elas tinham mesmo e, por mais que eu as ouvisse, sempre acreditava que ele pudesse mudar se eu desse mais uma chance). Não podia falar com meus pais, pois eles odiavam o garoto por ele ser trans (inclusive tive muitas brigas com meus pais durante o ano todo por causa disso). Tive que voltar para a terapia.
Comecei a ter surtos. Chorava tanto que meus pulmões chegavam a doer. Não conseguia entender o porque ele não me amava. Fui pra psiquiatra. Comecei a tomar 20mg de escitalopram, 2mg de risperidona e 20 gotas de clorpromazina. Depois de viver com os remédios e com a terapia, minha vida virou outra. Não fico sem sentir nada, mas a intensidade diminuiu extremamente. Não tenho mais surtos, nem choro mais de saudades do garoto (por mais que vez ou outra eu sinta uma leve saudade dele).
O tratamento foi quase como uma benção na minha vida. Consigo ver minhas relações de outra forma agora, consigo não ser tão intensa e consigo diferenciar meus sentimentos.
Da única vez que tive uma pessoa favorita, ela fez um inferno na minha vida e eu permiti. Permiti porque preferia que ele continuasse me machucando do que nunca mais ter ele. Foi completamente doentio. Espero nunca mais passar por isso de novo e nunca mais me colocar nesse lugar horroroso. Permiti ser desrespeitada, ser usada, ser humilhada de diversas formas. Por isso, um conselho: se você leu esse texto e se identificou com algum comportamento, por favor, procure ajuda e fuja de uma possível relação tóxica. Se precisar conversar sobre algo, é só me chamar aqui no substack e eu vou responder assim que ver. Não tenha vergonha do que você sente ou faz por “amor”, mas saiba quando dar um basta.
Sei que foi mais curtinho hoje, mas com o tempo eu escreverei textinhos mais longos (ou não, dependedo que vocês gostam de ler). Por favor me digam se preferem textos mais longos ou curtinhos assim.
Se me permitem recomendar uma música que, na minha interpretação, fala sobre esses sentimentos intensos, eu recmoendo essa aqui: Religion - Lana Del Rey. Eu iria adorar se me disserem o que acharam dela e do meu texto :)
Sinto muito mesmo por tudo isso.. caraca... mas, fico extremamente feliz que conseguiu se resolver indo ao psiquiatra (alguns nunca resolvem) e é realmente bom ter essa visão diferente agora, do que tá mesmo sentido. Espero que nunca mais passe por isso, amor pode ter discussões mas nunca brigas, pode exigir coisas mas não além do que podemos aceitar. Boa sorte. Ameiiiii o textooo e a música💗🥹 e aliás, quem liga se querem que escrevam mais ou menos? Escreva até tirar o nó na garganta entalado anos atrás, semana passa, hoje, se liberte dos pensamentos e os coloque aqui.❤️
sinto muito que você já tenha se sentido assim, o quase algo é desesperador. me pegou muito o final "Não tenha vergonha do que você sente ou faz por “amor”, mas saiba quando dar um basta." me identifiquei demais.